segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Meu Brasil brasileiro

Da vontade de editar este texto, coisa não permitida no fotolog, surge este blog.
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Esta semana estava conversando com uma amiga que visitou recentemente o Rio de Janeiro. Ela, encantada por tal cidade, relatava os motivos para isso, citando a alegria do povo carioca, as praias sempre cheias, mesmo numa terça-feira, e a proximidade física (muitos beijos e abraços). Fiquei pensando no por que eu não gosto do Rio de Janeiro, conseqüentemente do Brasil, cheguei à conclusão de que é pela alegria do povo, pelas praias sempre cheias, e pelos encontros efusivos.

Eu não sei como as pessoas podem se enganar por tão pouco, podem vangloriar-se por algo que não são, como conseguem ver só um lado das coisas, como estão todos olhando para o lado enquanto o país apodrece. Mas, principalmente, não é a violência nem a apatia com que seus moradores lidam com ela que suscita minha antipatia pelo Rio de Janeiro. É a falta de civilidade.

Eu poderia generalizar e falar sobre o Brasil (inclusive SP), mas o Brasil é grande demais e suas regiões são diferentes demais. Quando alguém pensa em um brasileiro, imagina um carioca, que não são todos os cariocas, possivelmente nem a maioria deles. Mas o carioca médio é o estereótipo do brasileiro-padrão e eu não gosto do brasileiro-padrão. Não gosto de ver a imagem que estrangeiros têm do Brasil, de saber que eles estão certos e ver que estou incluída neste grupo.

O brasileiro joga papel no chão, não dá lugar para idosos no transporte público, não atravessa na faixa (talvez até por ter sempre um carro em cima dela) e não espera ninguém sair antes de entrar.

O brasileiro usa uma tabela de preços para conterrâneos e outra para turistas. Ele recolhe todos os animais abandonados nas ruas e deixa os humanos. Orgulha-se de bater recordes de blindagem de carros e faz caminhada na orla contra a violência quando alguém é brutalmente assassinado, como se só as mortes dramaticamente impactantes fossem importantes, como se o assassinato, por si só, não fosse algo absurdo.

O brasileiro é racista, preconceituoso, xenófobo e homófobo e foi o país (fora a Alemanha) com mais filiados ao Partido Nazista, mas adora dizer que está de braços abertos para qualquer um.
O brasileiro lava o carro e o quintal com mangueira, usa sacola plástica na compra de um só produto, escova os dentes com a torneira aberta, desmata 650km² da Floresta Amazônica por mês e odeia os porcos capitalistas americanos que não se preocupam com o meio ambiente.

É a velhinha de Taubaté. É o povo que vota em alguém que nasceu pobre só por ter nascido pobre. Que gosta de burlar as regras e ganhar vantagem, pela hierarquia ou pela força. Que faz filmes que exalta sua pobreza e reclama quando um estrangeiro faz o mesmo. Que passa o verão semi-nu e reclama do turismo sexual. E que sai rapidinho e com uma risadinha maliciosa quando percebe que o caixa lhe deu um troco maior do que lhe era devido.

O Brasil é o lugar onde vandalismo é chamado de raiva e crime de pobreza. Onde os presos queimam seus colchões e os ‘Direitos Humanos’ fazem o pai do garoto assassinado lhes comprar outro. É o país que é sempre vítima.

É o país onde o povo não é alegre, é bobo alegre.

Os brasileiros são assim, adoram usar a terceira pessoa para falar mal de brasileiros.

5 comentários:

Ériksen disse...

Primeiramente, bem vinda ao mundo dos blogs!
Segundamente(sim, acabei de inventar uma nova palavra), eu já disse no fotolog que tu devia procurar emprego em alguma rádio e meter a boca no trombone.
Pra finalizar, as vezes dá vergonha de ser brasileiro. Mas no fim, tudo é festa. Paciência!

Beijãooo

bella ferraro disse...

Bem vinda, Fá!
Brasil é mesmo essa desgraça. Talvez o mais constrangedor, pra mim, seja o Brasil se vangloriar de seu otimismo inabalável. Eu e mais um punhado de brasileiros somos a minoria deprimida e descrente da nação.

Mateus Henrique Zanelatti disse...

Eu sou brasileiro :(

Márcio Viana disse...

Estréia em grande estilo!

.má oliveira. disse...

Fá, adorei seu texto! Terminei de ler com a sensação de que era tudo que eu queria ter dito. Nunca encontrei alguém com idéias políticas, sociais e econômicas tão parecidas com as minhas. A diferença é que vc é muito melhor em textos objetivos. Deveria escrever muito mais!