quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


No primeiro post deste blog, onde se lê:
“O Brasil é o país onde vandalismo é chamado de raiva e crime de pobreza.”
Leia-se:
“O Brasil é o país onde vandalismo é chamado de raiva, crime de pobreza e pichação de arte.”

Acompanho estarrecida notícias sobre artistas, políticos e o próprio Ministro da Cultura apelando para que a justiça liberte a jovem gaúcha Caroline Pivetta (piada pronta), que foi presa há 40 dias em flagrante pichando o prédio da Bienal de Arte Paulistana e que, entre outros crimes, estava no meio do grupo que pichou a faculdade de Belas Artes como apresentação do TCC de um aluno que se sentia oprimido (???).

Ela diz que sentiu inspiração e foi fazer sua arte.
Claro, se é fácil assim o maníaco do parque poderia ter sido solto com o argumento de: “estuprei porque estava de pau duro”.

Uma horda invade um local público para depredar seu interior e isso é arte, porque, afinal, eles têm boas justificativas para seus atos:

“Não há duvidas que é errado pichar um espaço privado (fato), mas um ambiente público, em que o meio social pode ser interagido com a arte de rua, isso é totalmente válido e divertido de se ver…”. Claro, eu trabalho em um prédio público, não me agüento de rir ao imaginar um grupo invadindo minha sala para depredá-la.

“Essa é mais uma prova que “cultura” é coisa pra peixe grande, pra gente de posse, pra high society. Espaço na Bienal só tem gringo… vai eu lá tirar a roupa e esperar a ajuda do povo pra me vestir, comer e dormir? Puta hipocrisia barata!”. Claro, e quem odeia a “arte” deles têm é que ficar quietinho, afinal, são burguesinhos elitistas contra artistas que expressam os sentimentos de uma nação. E, se alguém tentar fazer algo contra, a ficha corrida deles, inclusive da Caroline, mostra o fim que esta pessoa terá.

“O espaço vazio era uma lacuna a ser preenchida”. Palmas para a nova geração de pensadores brasileiros. Ninguém falou pra ela concluir pelo menos o ensino fundamental e preencher a própria cabeça.

Outros dizem que no Brasil ladrão de galinha não fica preso e a garota é bode expiatório, como se o fato de a justiça não ser assim tão justa mudasse o fato de que ela foi pega no ato de um crime. Estamos nivelando por baixo, ao invés de começar por algum lugar, deixamos passar, afinal, já deixamos passar há tanto tempo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Este é o Joãozinho. Ele não tem família e nem onde morar, por isso dorme em cima do lixo que você coloca na calçada. Todos os dias ele ouve o barulho de caminhões que passam lotados de mantimentos doados por seus vizinhos.

Quando ele anda pela cidade vê casas, órgãos públicos, empresas, mídia, igrejas, todos fazendo campanha para que doemos o que pudermos para pessoas que não podem voltar para suas casas por um tempo, mesmo o governo tendo que proibir a entrada de caminhões com mais mantimentos e roupas, por não ter mais onde guardar tanta coisa.

Ele também ouviu falar de contas que pessoas do país inteiro estão abrindo para receber dinheiro e enviar aos desabrigados.

Outro dia ele dormiu em cima de um jornal onde estava escrito que o governo, através da CEF, disponibilizou R$ 1.500.000.000,00 (1 bilhão e meio de reais); o presidente, por meio de uma MP, mais R$ 650.000.000,00 (seiscentos e cinqüenta milhões de reais), mais R$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de reais) recebidos por meio de doações à conta da Defesa Civil. Fora milhões que chegam por outros meios. Ele também leu que existem cerca de 35 mil desabrigados, e este número cai a cada dia, pois muita gente já pode voltar pra sua casa. Joãozinho fez as contas: dá aproximadamente R$ 65.000,00 (sessenta e cinco mil reais) para cada desabrigado. Claro que precisam construir estradas e outras coisas, mas é para casos assim que arcamos com a segunda maior carga tributária do mundo sem pestanejar.

O Joãozinho ficou emocionado por estar tão próximo a pessoas que se preocupam tanto com seu bem-estar, e ficou muito feliz pela perspectiva de, logo logo, receber seu dinheiro. Mas não vai chegar nada pra ele.
É como quando vamos atravessar uma rua e ficamos tão preocupados em estar vindo um carro no final dela que esquecemos de reparar se já tem algum carro por perto. Existem Joãozinhos perto de todos, tanta boa vontade não precisa esperar uma catástrofe acontecer e campanhas serem feitas para aflorar.

P.S.: Segundo a última pesquisa, feita em agosto de 2008, o Brasil tem 32 mil moradores de rua. Para fazer esta pesquisa o Governo Federal gastou, diretamente, 2 milhões de reais.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Meu Brasil brasileiro

Da vontade de editar este texto, coisa não permitida no fotolog, surge este blog.
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Esta semana estava conversando com uma amiga que visitou recentemente o Rio de Janeiro. Ela, encantada por tal cidade, relatava os motivos para isso, citando a alegria do povo carioca, as praias sempre cheias, mesmo numa terça-feira, e a proximidade física (muitos beijos e abraços). Fiquei pensando no por que eu não gosto do Rio de Janeiro, conseqüentemente do Brasil, cheguei à conclusão de que é pela alegria do povo, pelas praias sempre cheias, e pelos encontros efusivos.

Eu não sei como as pessoas podem se enganar por tão pouco, podem vangloriar-se por algo que não são, como conseguem ver só um lado das coisas, como estão todos olhando para o lado enquanto o país apodrece. Mas, principalmente, não é a violência nem a apatia com que seus moradores lidam com ela que suscita minha antipatia pelo Rio de Janeiro. É a falta de civilidade.

Eu poderia generalizar e falar sobre o Brasil (inclusive SP), mas o Brasil é grande demais e suas regiões são diferentes demais. Quando alguém pensa em um brasileiro, imagina um carioca, que não são todos os cariocas, possivelmente nem a maioria deles. Mas o carioca médio é o estereótipo do brasileiro-padrão e eu não gosto do brasileiro-padrão. Não gosto de ver a imagem que estrangeiros têm do Brasil, de saber que eles estão certos e ver que estou incluída neste grupo.

O brasileiro joga papel no chão, não dá lugar para idosos no transporte público, não atravessa na faixa (talvez até por ter sempre um carro em cima dela) e não espera ninguém sair antes de entrar.

O brasileiro usa uma tabela de preços para conterrâneos e outra para turistas. Ele recolhe todos os animais abandonados nas ruas e deixa os humanos. Orgulha-se de bater recordes de blindagem de carros e faz caminhada na orla contra a violência quando alguém é brutalmente assassinado, como se só as mortes dramaticamente impactantes fossem importantes, como se o assassinato, por si só, não fosse algo absurdo.

O brasileiro é racista, preconceituoso, xenófobo e homófobo e foi o país (fora a Alemanha) com mais filiados ao Partido Nazista, mas adora dizer que está de braços abertos para qualquer um.
O brasileiro lava o carro e o quintal com mangueira, usa sacola plástica na compra de um só produto, escova os dentes com a torneira aberta, desmata 650km² da Floresta Amazônica por mês e odeia os porcos capitalistas americanos que não se preocupam com o meio ambiente.

É a velhinha de Taubaté. É o povo que vota em alguém que nasceu pobre só por ter nascido pobre. Que gosta de burlar as regras e ganhar vantagem, pela hierarquia ou pela força. Que faz filmes que exalta sua pobreza e reclama quando um estrangeiro faz o mesmo. Que passa o verão semi-nu e reclama do turismo sexual. E que sai rapidinho e com uma risadinha maliciosa quando percebe que o caixa lhe deu um troco maior do que lhe era devido.

O Brasil é o lugar onde vandalismo é chamado de raiva e crime de pobreza. Onde os presos queimam seus colchões e os ‘Direitos Humanos’ fazem o pai do garoto assassinado lhes comprar outro. É o país que é sempre vítima.

É o país onde o povo não é alegre, é bobo alegre.

Os brasileiros são assim, adoram usar a terceira pessoa para falar mal de brasileiros.